Versão de presidente sobre ajuda de R$ 40 mil a secretária desaparecida levantou suspeitas sobre desvios na Apae, diz delegado
12/12/2024
À frente do inquérito que investiga suspeita de desvio na entidade em Bauru, Gláucio Stocco falou sobre o início e andamento das investigações. Nove pessoas são suspeitas de envolvimento no esquema, entre elas, parentes de Cláudia Lobo que, para a polícia, foi assassinada por Roberto Franceschetti Filho, ex-presidente da Apae. Justiça determina prisão preventiva de 9 suspeitos de envolvimento em esquema de desvio milionário na Apae de Bauru
Reprodução/TV TEM
O delegado responsável pelo inquérito que investiga a suspeita de desvio milionário na Apae de Bauru (SP), Gláucio Stocco informou, em entrevista à TV TEM, que o depoimento do então presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho, logo após o desaparecimento da secretária executiva Cláudia Lobo, foi ponto de início das investigações.
📲 Participe do canal do g1 Bauru e Marília no WhatsApp
Gláucio explicou que ao ser questionado sobre os possíveis motivos do desaparecimento de Cláudia, Roberto citou uma ajuda financeira à secretária executiva que sairia do caixa da Apae. Nesse momento, o ex-presidente ainda era ouvido na condição de testemunha do inquérito que investigava o desaparecimento de Cláudia.
“Quando o Roberto foi ouvido a respeito do desaparecimento da colega de trabalho, ele menciona uma solicitação da Cláudia de um determinado valor que ela teria que entregar para alguém. E ela pede ao Roberto que esse valor seja retirado dos cofres da Apae, o que seria em torno de R$ 40 mil. Inicialmente ele afirma que negou, mas que depois acabou cedendo à solicitação dela e que inclusive teria sido ameaçado em uma ligação anônima. Ele traz essa informação de retirada de dinheiro da Apae e quando questionado sobre como isso seria possível legalmente, nos traz essa suspeita de ele estava retirando valores de forma ilegal da entidade.”
Desvio milionário na Apae de Bauru: Justiça decreta prisão preventiva de nove investigados
A partir daí, uma investigação paralela à apuração do desaparecimento da secretária executiva passou a ser realizada pelo Setor de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold) para levantar as informações sobre supostos desvios e irregularidades nas finanças da Apae que poderiam estar relacionados com o sumiço de Cláudia Lobo.
No curso das investigações Roberto passou de testemunha a principal suspeito do desaparecimento e, segundo a polícia, do assassinato da funcionária da entidade.
Com a conclusão do inquérito sobre desaparecimento, homicídio e ocultação de cadáver, o delegado responsável por essas investigações, Cledson do Nascimento, compartilhou as provas colhidas com o Seccold, entre elas gravações telefônicas que indicam um esquema criminoso e organizado de desvio de verbas da Apae.
Dentro do processo que investiga a morte de Cláudia, os advogados da família pediram a fixação de uma indenização por danos morais no valor mínimo de R$ 200 mil.
Segundo a defesa, essa solicitação é comum em casos de homicídio, nos quais os réus geralmente são condenados a pagar uma compensação aos familiares. A decisão final sobre o valor da indenização será tomada pela Justiça na sentença, a ser proferida durante o julgamento.
Movimentações milionárias
A investigação aponta movimentações atípicas de quase R$ 7 milhões nas contas de Roberto e Cláudia. Os dois inquéritos somam mais de 2,5 mil páginas que a reportagem da TV TEM e do g1 tiveram acesso com exclusividade.
LEIA TAMBÉM
Má gestão, desvio de verba e disputa de poder são possíveis motivações para morte de funcionária da Apae de Bauru
Operação na Apae de Bauru: saiba quem são os presos em ação contra desvios milionários
Empregos e contratos irregulares beneficiaram parentes de secretária da Apae
Nove pessoas foram identificadas e estão presas suspeitas de envolvimento no esquema. Entre elas estão a filha, a irmão, o cunhado e o ex-marido de Cláudia, além de dois funcionários da Apae, um ex-policial que prestava serviços de segurança para entidade e um empresário.
Roberto também é investigado neste inquérito e já estava preso desde o dia 15 de agosto por envolvimento no desaparecimento de Cláudia. Todos tiveram a prisão preventiva decretada.
Além disso, foram apreendidos celulares e outros aparelhos eletrônicos, armas e munições, joias, dinheiro e veículos durante a operação realizada no dia 3 de dezembro.
Também durante as investigações foram apreendidas três máquinas de cartão, todas vinculadas a contas da Apae e duas delas que a entidade sequer tinha conhecimento da existência. Só em uma delas foi identificada uma movimentação de R$ 500 mil para contras da Cláudia e do Roberto.
As investigações revelam, por fim, um esquema de desvio de dinheiro envolvendo superfaturamento de contratos, pagamentos a funcionários "fantasmas" e outras irregularidades financeiras dentro da entidade.
Foram apreendidos armas, munições e dinheiro na operação que investiga desvios na Apae em Bauru
Anderson Camargo/TV TEM
Em mensagem trocada com ex-presidente Apae de Bauru, Cláudia Lobo escreveu que 'estava rica'
Reprodução/TV TEM
Depoimento dos envolvidos
Em depoimento, dois dos suspeitos presos confirmaram uso de notas fiscais frias na prestação de serviços à entidade. No entanto, eles explicaram que o valor excedente era restituído à Apae, com a alegação de que seria destinado a melhorias dentro da instituição.
“Um desses suspeitos é um empresário do setor de piscinas e no depoimento, ele explicou que quando fazia esses serviços de manutenção foi informado que a Apae não poderia fazer o pagamento com nota de serviço e sim de produtos. Então diante disso ele entregava os produtos, porém com notas de valores superfaturados, com valores acima do estipulado em contrato com a entidade. Esse valor a mais, a diferença, eles encaminhavam para uma conta da Apae que depois nós viemos a descobrir que era de movimentação exclusiva do Roberto e que sequer passava pela contabilidade da Apae”, explica Glaucio.
Ainda de acordo com o delegado, as investigações continuam para colher mais provas do envolvimento dos suspeitos já investigados e também sobre a possibilidade de mais pessoas fazerem parte do esquema.
“Na operação nove pessoas foram identificadas como alvos dessa investigação e outras que de alguma forma tiveram algum contato com esse esquema, elas entraram no radar da Polícia Civil, por isso, foram feitas as buscas com apreensão de celulares, computadores e outros eletrônicos e agora todo esse material vai ser extraído com a devida autorização e periciado”, explica.
“A polícia vai fazer novas análises para colher provas do envolvimento dessas pessoas já alvo da investigação e também de outras eventualmente envolvidas. A investigação é a respeito de condutas relacionadas a desvios então toda a movimentação financeira da Apae vai ser objeto de investigação independentemente de quem tenha participado”, completa.
O delegado também destacou a importância do trabalho da polícia para identificar os responsáveis por esses desvios e puni-los para que a instituição possa continuar a desempenhar o papel essencial na assistência e tratamento das pessoas com deficiência.
“A ideia nossa enquanto instituição é apurar condutas por crimes autoria e materialidade de crime identificar quem eram as pessoas envolvidas em ações ilícitas e apontar para o Ministério Público para que possa fazer a denúncia, haja um processo e até a final condenação e responsabilização daqueles que efetivamente tiveram participação."
"Para a associação é óbvio que existe um prejuízo para a imagem da Apae, mas que tem que ser resgatado. Então, que a ação da polícia sirva para que os gestores que forem assumir e a própria sociedade de forma geral tenham um pouco mais de atenção com isso.”
Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília
Confira mais notícias do centro-oeste paulista: